sábado, 14 de maio de 2011

SÉRIE "OS SETE PECADOS CAPITAIS" - 4o - IRA

OS SETE PECADOS CAPITAIS - 4º - IRA
Baseado no livro "Os Sete Pecados Capitais" - Os Guinness


Mateus 5:21-26

Introdução

No mês de novembro, os sites de notícias mostraram o perfil de mães que mataram seus filhos. Dentre muitos motivos, uma mãe matou seu filho porque ele estava chorando demais enquanto ela estava descansando. A ira tomou conta daquela mãe, e ela simplesmente matou e silenciou seu filho.
É importante entender que nem toda ira é pecado. Existe uma “ira” santa, registrada na Bíblia. Veja, por exemplo, Sl. 4:4: "Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai". Ou lembre de textos onde o Senhor Deus se ira contra o pecado e pune com fúria o mesmo (Is. 34:2-3,6,8).
João Crisóstomo, o antigo Pai da Igreja, escreveu: "Aquele que não fica irado quando é preciso, peca". Eu posso ficar irado contra o sistema de corrupção, contra a violência, contra a desigualdade, até contra aqueles que praticam tais atrocidades. Mas, eu não posso deixar que a ira contra o mal se transforme em ódio mortal.

CONTEXTO
O sermão do Monte é uma abordagem de Jesus acerca do cidadão do Reino dos Céus. Ele começa isso nas Bem-Aventuranças (5:1-12). A seguir, ele passa a revelar as funções e o propósito do crente nesta vida (5:13-16). Depois, Jesus apresenta a relação do seu ensino com a lei (5:17-20).
Agora, a partir do versículo 21, Jesus entra numa seção de re-interpretação do ensino dos escribas e fariseus (5:20), com seções: “ouvistes o que foi dito”; “eu, porém, vos digo”. São seis contrastes assim (5:21, 27,31,33,38,43). Jesus está propondo uma verdadeira interpretação da lei, contrária a falsa interpretação dos escribas e fariseus (somente os escribas e fariseus conheciam o aramaico e hebraico e podiam ler e interpretar a lei de Moisés). Nosso texto fala sobre ódio, ira, fúria, falta de perdão etc. O pecado capital da ira toma maior espaço no sermão do monte do que qualquer outro assunto. Veja: 5:21-26, 38-48. Quais são as conseqüências de um coração dominado pela ira?

I – A IRA CRIA UM OBSTÁCULO RELACIONAL (5:21-22)
Perceba que a interpretação dos fariseus quanto a este mandamento (não matarás) está errado.
A – Eu sou passivo de julgamento quando, no meu coração, me iro contra meu irmão (v. 22ª)
Para os fariseus, somente o homicídio está qualificado nesse mandamento, com seu respectivo julgamento (Nm. 35:30-31). Eles se esqueceram completamente da ira sem motivo, guardada no coração contra um irmão. Perceba que o texto está falando de irmãos em Cristo Jesus. E qualquer que ter esse sentimento é passível de julgamento.
B – Eu sou passível de julgamento quando, sem motivo, manifesto desprezo pelo meu irmão (v. 22b)
Na versão corrigida é usada a palavra “raca”, ou seja “sujeito indigno”. O desprezo ao próximo, que é um sentimento de zombaria ou escárnio, é atitude que acaba levando a pessoa a cometer um homicídio. Podemos destruir a reputação de um homem, podemos espalhar maledicência ou procurar erros nas outras pessoas etc. Tudo isso é pecado contra o mandamento: “Não matarás”.
C – Eu sou passível de julgamento quando, deliberadamente, manifesto ira para com meu irmão (v. 22c)
Agora, a declaração é franca e aberta. O ódio tomou conta do coração e sou totalmente passível de julgamento a inferno de fogo. Por isso, não há brigas justificáveis, do tipo: “Você não acha eu tenho razão ao reagir assim?”. Nossa ira deve ser contra o pecado e não contra o pecador. E nós precisamos avaliar isso criteriosamente. Muitos irmãos estão se destruindo pelo ódio um ao outro. Pela falta de perdão etc. (Mt. 18:21-35). Você tem perdoado a teu irmão, ou tem odiado teu irmão? (Mt. 6:14-15).

II – A IRA CRIA UM OBSTÁCULO ESPIRITUAL (5:23-26)
Talvez alguém julgue que se, tão somente, não pensar nada de errado contra seu irmão, não maldizê-lo para outros, e não ofendê-lo com palavras terá cumprido o mandamento de “Não matarás”. Porém, isso é apenas uma análise negativa do problema. Precisamos, agora, dar outro passo para que não venhamos a ter problemas na nossa adoração.
A – Cuidado com as manobras espirituais (v. 23-24)
Muitos de nós tentamos justificar nossa ira com oferendas a Deus, numa tentativa de contrabalancear o bem e o mal. Mas, Jesus conhece essas astúcias do nosso coração (Lc. 16:15). Se, na minha adoração, lembrar que de alguma forma pequei contra meu irmão ou o fiz pecar, é preferível deixar Deus esperando do que continuar apresentando algo inaceitável diante de Deus (Sl. 66:18; Is. 1:11-13; I Sm. 15:22).
B – Resolva seus problemas relacionais rapidamente para não prejudicar teu relacionamento espiritual (v. 25-26)
Quão urgente é resolvermos nossos problemas com nossos irmãos! Não corra o risco de você ir para a eternidade com essa dívida diante do tribunal de Cristo. Quantos não estão guardando ódio no coração para com seu pai, sua mãe, seu irmão, seu patrão etc. Enquanto você está nesta terra, procure resolver teus problemas rapidamente.

III – A IRA CRIA UM OBSTÁCULO MORAL (5:43-47)
Certamente, essa passagem é uma das mais difíceis de ser praticada em nossas vidas. Como amar o inimigo? Como amar aquele que nos maltrata, nos ofende, que quer ver nossa ruína?
A – A crise moral no entendimento errado do mandamento (v. 43)
Mais uma vez os fariseus interpretaram errado os textos do Antigo Testamento (Lv. 19:18). Os fariseus diziam que eles deveriam amar somente os judeus, e odiar os demais povos, pois eram considerados seus inimigos. É exatamente assim que muitos crentes vivem. Consideram muito seus irmãos de fé, mas desprezam totalmente os demais seres humanos. O pior é quando muitas denominações se arrogam mais santas, e desprezam completamente as outras.
B – O desafio de agir positivamente em favor dos nossos inimigos (v. 44-47)
O filósofo Nietzsche, afirmou que essa exortação dada por Jesus é uma evidência clara de que a ética cristã é designada para os fracos e os covardes, e não para os fortes e os corajosos. Enquanto na seção anterior (v. 38-42), Jesus nos desafia a um ação passiva de não reação, agora ele nos instiga a uma ação ativa ou positiva ante nossos inimigos: devemos amá-los. Então, Nietzsche errou, pois perdoar os inimigos é para os fortes e não para os fracos. Marthin Luther King analisou essa passagem da seguinte maneira: Por que devemos amar nossos inimigos?
1 - A primeira razão é bastante óbvia. Retribuir ódio com ódio multiplica o ódio, adicionando ainda mais escuridão à noite já desprovida de estrelas...
2- Outra razão por que devemos amar nossos inimigos é que o ódio macula o coração e distorce a personalidade...
3 - A terceira razão pela qual devemos amar nossos inimigos é por que o amor é a única força capaz de transformar um inimigo em amigo. Nunca nos livraremos de um inimigo ao retribuir ódio com ódio; só é possível nos livrarmos de um inimigo livrando-nos da inimizade.
Abraham Lincoln adotou o caminho do amor e legou à história um drama magnífico de reconciliação. Quando estava em campanha para a presidência, havia entre seus arquiinimigos um homem chamado Stanton. Por alguma razão, Stanton odiava Lincoln. Lincoln, quando presidente dos Estados Unidos, precisou escolher o homem que preencheria o cargo de Secretário de Guerra. Vocês imaginam quem Lincoln escolheu para essa posição? Nada menos que o homem chamado Stanton. Assim, Stanton tornou-se o Secretário de Guerra de Abraham Lincoln e prestou serviços inestimáveis à nação e ao presidente.
4 – A quarta razão está expressa claramente nas palavras de Jesus: "Amem os seus inimigos [...] para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus". Somos chamados a essa difícil tarefa a fim de termos uma relação exclusiva com Deus (I Jo. 3:11-16; 4:7-21).
Napoleão Bonaparte, o grande gênio militar, ao recordar seus anos de conquista disse: "Alexandre, César, Carlos Magno e eu construímos grandes impérios. Mas em que nos apoiamos? Unicamente na força. Contudo, há séculos, Jesus começou um império baseado no amor, e ainda hoje milhares de pessoas morreriam por ele". Você só será vencedor quando amar teus inimigos (Mt. 5:48).

CONCLUSÃO
A ira é um dos pecados capitais mais destruidores já vistos. Portanto, precisamos lutar contra a ira diariamente.
APLICAÇÕES:
1 – Deus sonda os nossos corações, e sabe como está nosso coração para com nosso próximo.
2 – Muitos crentes têm deixado de receber bênçãos em suas vidas por causa da ira guardada em seus corações.
3 – Deus não está perguntando quem está com a razão; Deus está ordenando amar nossos inimigos.
4 – O contraponto da ira são as bem-aventuranças de Mt. 5:5,9: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra; bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

Rev. Cleber Macedo de Oliveira

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