terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A METAMORFOSE CRISTÃ


Negrito
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
Romanos 12:2

Analisando um dicionário eletrônico, o mesmo disse que, em biologia, metamorfose (do grego metamórphosis) é uma mudança na forma e na estrutura do corpo (tecidos, órgãos), bem como um crescimento e uma diferenciação, dos estados juvenis ou larvares de muitos animais, como os insetos e anfíbios (batráquios), até chegarem ao estado adulto. Nasce com uma forma, morre com outra.
Quando o apóstolo Paulo usa esse verbo em Romanos 12, ele estava pensando justamente numa mudança que o cristianismo autêntico pode proporcionar ao homem: uma mudança espiritual. O próprio Paulo já falara sobre essa transformação em II Co. 5:21: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas velhas já passaram; eis que se fizeram novas”. A essa transformação, o Senhor Jesus também disse em Jo. 3:3: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. O cristianismo subentende nova vida, novo nascimento, nova estrutura espiritual.
Infelizmente, muitos cristãos, que foram transformados pelo poder de Deus, foram transformados em novas criaturas, estão sofrendo um tipo de “involução” espiritual, e retomando a forma antiga. Eu explico! Para que se entenda o uso do verbo por Paulo em Rm. 12:2, é preciso entender que ele o está contrastando com outro verbo no início do versículo 2. Ele diz: “E não vos conformeis..., mas transformai-vos...”. Paulo está escrevendo para a igreja cristã em Roma, e sua preocupação era que muitos cristãos, agora novas criaturas, voltassem às antigas formas do mundo. O verbo “conformeis” tem a idéia de uma fôrma fixa, onde tudo que entra nela, toma sua exata imagem.
Este século tem amoldado o mundo em suas caricaturas mais aberrantes: homossexualismo, poligamia, pornografia, corrupução, violência, intolerância etc. E o pior, muitos crentes têm retomado essa forma. Paulo, em I Co. 6:11, depois de tecer uma lista de condenáveis ao inferno, nos alerta: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados...”. Ainda em Ef. 4:22-24: “No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as comcupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem...”. A forma do crente em Cristo é parecer-se com seu Salvador, e não mais a um mundo caído e desgraçado pelo pecado.
Que a Igreja de Cristo não se amolde ao mundo. Que a Igreja de Cristo não se conforme (amolde) com o mundo, mas lute pela sua transformação à image de Cristo Jesus. A verdadeira metamorfose já ocorreu em nossas vidas. Agora, é perseverar até o dia de Cristo Jesus.
(Pr. Cleber Macedo de Oliveira)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um homem caiu no buraco

Que esse vídeo o faça refletir sobre a diferença entre religião e religiosidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Uma análise acerca do sofrimento


Pr. Cleber Macedo de Oliveira


O problema do sofrimento é, certamente, uma das grandes indagações da humanidade. Não é surpresa ler e ouvir pessoas comentando e questionando onde está Deus nesses episódios catastróficos. O interessante é que não questionam onde está Deus quando tudo vai bem, ou quando têm grandes conquistas na vida pessoal ou familiar. Isso é bem explicado quando se entende o arrogante coração humano. Na bonança usam o velho chavão do iluminismo, que diz: “O homem é a medida de todas as coisas”. Porém, quando a adversidade ofende a pretensa seguridade humana, este procura culpar aquilo que está fora de si. Realmente, sofrer é um problema.
Algumas religiões procuram se beneficiar do sofrimento, procurando nele algo pelo qual possa se agradar. Os estóicos e epicureus, por exemplo, procuram gozar determinado sentimento de alegria no sofrimento. O cristianismo, por sua vez, não está isento dele. O que nos resta saber é exatamente qual a posição do cristianismo diante do sofrimento.
Para muitos evangélicos, o sofrimento se tornou algo repugnante e intolerável. Esta atmosfera que envolve a igreja evangélica hoje, com sua ênfase na crença fácil e num cristianismo que apregoa prosperidade, acabou por criar uma atitude não bíblica entre os crentes com relação aos sofrimentos e perseguições. Para estes, o sofrimento não é da vontade de Deus e, quando este vem, questiona-se a soberania daquele que tem o poder da vida e da morte em Suas mãos. As condições da cultura pós-cristã e de uma igreja evangélica cada vez mais instável estão mudando e declinando tão rapidamente que os crentes já precisam se preparar para não serem pegos desprevenidos ao se defrontarem com perseguições e adversidades.
O problema do sofrimento transcende os campos da teologia e filosofia; ou até mesmo se mesclam. Vemos isso no questionamento do filósofo Epicuro: Ele disse:
“Ou Deus deseja remover o mal deste mundo, mas não pode fazê-lo, ou ele pode fazê-lo, mas não o quer; ou não tem nem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo; ou, finalmente, ele tem tanto a capacidade como a vontade de fazê-lo. Ora, se ele tem a vontade, mas não a capacidade de fazê-lo, então isso mostra fraqueza, o que é contrário à natureza de Deus. Se ele tem a capacidade, mas não a vontade de fazê-lo, então Deus é mau, e isso não é menos contrário à sua natureza. Se ele não tem nem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo, então Deus é ao mesmo tempo impotente e mau e conseqüentemente, não pode ser Deus. Mas se ele tem tanto a capacidade como a vontade de remover o mal do mundo (a única posição coerente com a natureza de Deus), de onde procede o mal (unde malum?) e por que Deus não o impede?”
A verdade é, infelizmente, que cristãos sinceros têm se deixado levar por pensamentos que fogem às doutrinas centrais acerca dos atributos de Deus. Nos relatos que foram apresentados pelos blogueiros, mais particularmente no primeiro articulador, contrariando a interpretação do Dr. Augustus Nicodemus, revela uma visão equivocada acerca do caráter de Deus. Mais uma vez percebe-se a confusão das velhas heresias marcionitas[1], questionando a bondade e soberania de Deus.
Ainda há a velha tentativa no homem caído de auto-justificação, de bondade inata e de ser simplesmente uma vítima contingencial das mazelas deste mundo. Porém, isso tudo caiu por terra quando o autor acertadamente apresentou a resposta bíblica aos problemas do mundo: pecado. Sem uma compreensão da verdadeira condição do homem, este sempre se achará vítima, e nunca réu. A depravação total do homem é claramente apresentada pelo apóstolo Paulo em Rm. 3:10-18. O versículo 10 já mostra que o homem é indesculpável: “... Não há um justo, nem um sequer...”. qualquer tentativa de justificar-se, torna o homem mentiroso diante de Deus. E por esse pecado, todo tipo de miséria e sofrimento entraram no mundo. Aliás, sofremos porque somos responsáveis pelos nossos atos pecaminosos.
Portanto, a justiça de Deus é perfeitamente santa e justa. Lemos em Rm. 1:18: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”. Não há nada de errado em Deus permitir, ou até mesmo em decretar tais catástrofes (Gn. 2:17; 3:19; 6:17; Mt. 24:39; Hb. 9:27; II Pe. 2:5). Como corretamente disse o Dr. Augustus Nicodemus: “...diante de acidentes como a queda do AF 447, devemos nos lembrar que eles ocorrem como parte das misérias e castigos temporais resultantes das nossas culpas, de nossos pecados, como raça pecadora que somos”. E isso se aplica também àqueles que já foram lavados e remidos em Cristo Jesus[2].
Analisando o sofrimento numa perspectiva bíblico-teológica para com o cristão, tais adversidades têm o propósito de se tornar uma bênção, para provação da fé e aprovação da parte de Deus. O Dr. Augustus, em seu comentário de Tiago, diz: “O que os judeus cristãos da Diáspora precisavam saber era que suas muitas tribulações funcionavam como testes que visavam trazer à luz esse elemento. Não eram castigos enviados por Deus, mas disciplina paterna visando o crescimento”[3]. Enquanto que para o homem que não crê em Deus o sofrimento é uma tragédia sem precedentes, para o crente em Cristo, ele traz crescimento e dependência de Deus.
Outro texto que traz mais luz a essa interpretação acerca do sofrimento é o de I Pe. 4:12. Pedro fala: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma cousa extraordinária vos estivesse acontecendo”. Haja vista ser o sofrimento algo presente na vida cristã, Pedro mostra a seus leitores que não se deve estranhar tal sofrimento. A forma imperativa do verbo xenizesqe nos dá a entender exatamente que outro sentimento contrário a este seria de uma vida não compromissada com o evangelho. Uma melhor tradução para a forma passiva deste verbo seria “não vos surpreendais”, ou “não sejais surpreendidos”. Não sejam eles apanhados de surpresa quanto a este sofrimento, que estava presente e, certamente, aumentaria (Jo. 15-16; II Tm.3:12; I Jo. 3:13)[4].
É realmente muito difícil trazer algum consolo para as famílias que perderem seus parentes em tragédias como a temática desta análise. É até compreensível uma certa revolta por parte daqueles que não têm um conhecimento bíblico satisfatório de Deus. Porém, nos assusta reações infantis e até heréticas de muitos cristãos que, tendo conhecimento da verdade, a distorcem segundo suas paixões carnais, numa tentativa de serem até mais justos que o próprio Deus. Mesmo que haja retaliação por parte de muitos que distorcem a doutrina da soberania de Deus, é a insistência em prezar pela verdade que trará elucidação aos corações incautos e ansiosos por uma resposta
[1] Marcião de Sinope ( 110 a 160 d.C.) foi um teólogo cristão e fundador do que veio depois a ser chamado marcionismo. De acordo com a sua teologia o Antigo Testamento deveria ser rejeitado e apenas os textos que ele atribuiu a Paulo deveriam ser tidos como sagrados. Considerava que o Deus vingativo do Antigo Testamento não poderia ser o mesmo Deus amoroso a que Jesus se referia como Pai, e por isso, achava que só o Novo Testamento interessaria aos cristãos. Na doutrina de Marcião havia assim um Deus bom e um Deus mau. O primeiro ficava em um plano superior. Num plano abaixo na criação estava o Deus venerado pelos hebreus, a qual Marcião chama de Deus da Lei. Em um terceiro plano estavam os anjos, e o quarto e último plano era "Hyle" (matéria em grego). O Cristo havia sido enviado pelo Deus bom para libertar as almas do plano material.

[2] De acordo com David Barrett, editor do World Christian Encyclopedia, 300.000 (trezentos mil) cristãos são martirizados todos os anos. 833 (Oitocentos e trinta e três) por dia. Barret conclui que a probabilidade mundial de alguém ser martirizado por ser crente é de 1 para 200. Se for missionário, de 1 para 50. Se for evangelista em sua própria pátria, de 1 para 20 (Nova Iorque: Oxford University Press, 1982)[2].
[3] LOPES, Augustus Nicodemus, Tiago, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, S.P., 2006, p. 23.
[4] MUELLER, Ênio R., IPedro, p. 244-245. É possível que ao enfatizar este aspecto da surpresa do sofrimento, pode ser uma evidência de que maior parte dos leitores é de origem não-judaica;os judeus por sua própria história, já estavam mais acostumados a perseguições e sofrimentos, ao passo que os cristãos de origem gentílica podiam às vezes não saber bem o que fazer dentro de tais situações. O fogo ardente, que estava destinado a provar os cristãos era exatamente uma forma de purificação, lapidação da fé daqueles irmãos. Tanto no Novo Testamento quanto no Antigo Testamento (Setuaginta), a palavra traduzida por “ardente” é usada juntamente com o termo “fornalha”. Segundo MacArtuh Jr. comenta acertadamente, no Antigo Testamento este vocábulo se aplicava a um forno para fundição de minérios, no qual o metal era derretido para ser purgado dos elementos estranhos[4]. O Salmo 66:10 diz: “Pois tu, ó Deus, nos provaste; tu nos afinaste como se afina a prata”. Essa ardente prova é símbolo da aflição destinada por Deus “para vos provar”.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

DEZ EFEITOS DE CRER NAS DOUTRINAS DA GRAÇA


John Piper

1) As doutrinas da graça enchem-me de temor a Deus e levam-me à verdadeira adoração profunda centrada em Deus. “Para louvor da glória de sua graça” (Ef. 1:6, 12, 14). Não podemos enriquecer a Deus, e, por essa razão, sua glória resplandece mais esplendidamente quando nos satisfazemos nele como essência de nossas obras.
2) Estas verdades protegem-me de vulgarizar as coisas divinas. Existe hoje a vulgarização das coisas espirituais. Mas, a doutrina da graça me faz tratar com reverência e solenidade as coisas de Deus.
3) Estas verdades me fazem admirar a minha própria salvação – Todos os motivos de vanglória são removidos. Há muita alegria e gratidão (Ef. 2:8-10).
4) Estas verdades tornam-me alerta quanto aos substitutos centrados no homem que passam por boas-novas – As doutrinas da graça são uma proteção contra os ensinos centrados no homem que, sob muitas formas, corrompem gradualmente a igreja, tornando-a fraca em seu interior, enquanto parece forte e popular.
5) Estas verdades fazem-me gemer diante da indescritível enfermidade de nossa cultura secular que milita contra Deus – Existimos para afirmar a realidade de Deus e a sua supremacia em toda a vida.
6) Estas verdades tornam-me confiante de que a obra planejada e começada por Deus chegará ao final – tanto no que diz respeito ao universo como ao indivíduo – Veja Filipenses 1:6.
7 – Estas verdades fazem com que eu veja todas as coisas à luz dos propósitos soberanos de Deus: dEle, por meio dEle e para Ele são todas as coisas; a Ele seja a glória para sempre e sempre – Não há qualquer aspecto da nossa vida em que Ele não seja extremamente importante (I Co. 10:31).
8) Estas verdades enchem-me da esperança de que Deus tem vontade, direito e poder de responder as súplicas para que pessoas sejam mudadas – A garantia da oração é que Deus pode irromper e mudar as coisas, incluindo o coração humano (Ez. 11:19; 36:27).
9) Estas verdades recordam-me que o evangelismo é absolutamente essencial para que as pessoas venham a Cristo e sejam salvas. Recordam-me também que há esperança de sucesso em levar as pessoas à fé e que, em última análise, a conversão não depende de mim, nem está limitada à insensibilidade do incrédulo – Portanto, isso nos proporciona esperança na evangelização, especialmente em lugares difíceis e entre pessoas de coração empedernido (Jo. 10:16).
10) Estas verdades deixam-me convicto de que Deus triunfará no final – “...O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is. 46:9-10).
(Extraído da revista “Fé para Hoje”, no. 34 / junho/2009. John Piper)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A URGENTE NECESSIDADE DE REFORMA NA IGREJA


“Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm. 1:17)

Rev. Cleber Macedo de Oliveira

No dia 31 de Outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero, pregou nas portas do Castelo de Witemberg, Alemanha, 95 teses contra as chamadas “indulgências plenárias”, ou seja, a promessa da Igreja Católica de absolver as pessoas de todos os seus pecados até o dia de sua morte, se tão somente contribuíssem monetariamente para os cofres da Igreja. A partir deste ato, eclodiu-se uma série de movimentos reformistas na Igreja, que já estavam “engasgados” na garganta de muita gente. Lutero não podia mais conter sua fé reformista.
Confesso que nos dias atuais, fico com um tremendo “nó” na garganta, ansioso para dar um grito de Reforma Já – não, não é a Reforma da Previdência, ou do Senado -, mas, sim, a Reforma da Igreja de Cristo Jesus. Não agüento mais ser tachado de “incrédulo”, ou um “pastor de pouca fé” só porque não faço um culto de libertação, pois entendo que todo culto é de libertação. Não agüento mais ser olhado de lado pelos irmãos pentecostais e neo-pentecostais só porque não creio em maldição hereditária na vida de um cristão liberto pelo sangue de Jesus. E o que dizer daqueles que me dizem que não sou batizado com o Espírito Santo só porque não falo em língua estranha. “O seu culto é frio” dizem eles, só porque prefiro ter um culto racional, segundo Romanos 12:1. Quando, então, falo sobre o meditar na Bíblia diariamente e que a pregação é o centro do culto, me chamam de quadrado; afinal, “somos a geração que dança”. Eu, particularmente, prefiro ser classificado como a “geração que ora, que jejua, que lê Bíblia, que testemunha”. Chamam-me de conservador, só porque não saio ungindo os carros dos irmãos, as casas, as chácaras, as contas bancárias, porque entendo que gente é mais importante que coisas. Dizem que tenho pouca unção só porque não consigo adivinhar seus sonhos, seus pensamentos ou o que vai acontecer com eles daqui alguns dias. Prefiro confiar na providência de Deus, pois, basta a cada dia o seu próprio mal.
Não nego que, de vez em quando, entro em crise no meu ministério, e sou tentado a ceder à pressão de uma nação evangélica brasileira que insiste na ignorância e infantilidade dos sentimentos produzidos eletronicamente. Mas, então, lembro de Lutero que não temeu ir contra o sistema dominante. Pelo contrário, denunciou a exploração do clero, a ignorância das Escrituras, a promiscuidade atrás do ritualismo. O resultado de seus atos permanece até hoje.
Certamente, a Igreja de Cristo precisa urgentemente de Reforma, para destruir esse sincretismo religioso emergente em nossas igrejas. Precisamos restaurar a centralidade da Palavra de Deus em nossas vidas e entender que o justo vive fé, apenas!

ALIMENTANDO AS OVELHAS OU DIVERTINDO OS BODES?


C. H. Spurgeon

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.
Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15) – isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: “E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho”, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef. 4:11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-los? Os concertos de música não têm um rol de mártires.
Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? “Vós sois o sal”, não “o docinho”, algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: “Deixa os mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Lc. 9:60). Ele estava falando com terrível seriedade! Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los.
Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. A missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.
C. H. Spurgeon (Extraído do “Fé para hoje”, 2000, no. 6).

quinta-feira, 2 de julho de 2009